terça-feira

As Flores de Lótus


Retirado na solidão, sentado ao pé de um "banyian" (figueira da Índia), o Buddha sonhava:

"Descobri uma verdade profunda, difícil de ser percebida; ela enche de paz o coração, é sublime, ultrapassa qualquer pensamento, mas é secreta, e só o sábio é capaz de aprendê-la. No turbilhão do mundo encontra ela sua sede e seu prazer. Para a humanidade há de ser coisa difícil perceber o encadeamento das causas e dos efeitos; e mais difícil ainda compreender a entrada no repouso de tôdas as formações, o desprendimento das coisas da Terra, a extinção da paixão, o Nirvana."

E apresentou-se, então, ao seu espírito a seguinte sentença, que ainda ninguém havia escutado:

"Porque hei de anunciar ao mundo aquilo que conquistei à custa de tantos esforços? - A verdade tem que permanecer vedada àqueles que estão cheios de desejo e de ódio. - É uma coisa que se custa alcançar, que é profunda e inacessível ao espírito grosseiro. - Não poderão vê-la aqueles cujos desejos terrenos envolvem de trevas o espírito."

Mas se se considerar um açude coberto de lótus, entre as rosas das águas - lótus azuis, lótus brancos, nascidos da água, subindo da água para a luz - uns há que florescem no fundo, sem jamais vir à tona. Ao contrário, outras rosas das águas - lótus azuis, lótus brancos, nascidos na água, subindo da água para a luz - elevam-se até a superfície. Outras rosas das águas, afinal, emergem, e a água não molha mais suas pétalas. Assim, também, quando o bem-aventurado lançou os olhos sobre o mundo, percebeu que havia sêres cujos olhos espirituais eram velados apenas por uma leve poeira; e outros que os tinham obscurecidos por uma espêssa poeira; viu seres de espírito vivo e outros de espírito obtuso; uns fáceis, outros difíceis de ser instruídos, e muitos que viviam no temor, pensando na morte e nas suas faltas. E ao ver tais coisas, pronunciou este sentença:

"Seja aberta a todos a porta da Eternidade. - Ouçam quem tiver ouvidos! - Eu pensei em minha própria mágoa: e foi por isso que hesitei em revelar aos homens a nobre Verdade. Venho ao mundo para salvação de muitos, de pena do mundo, para a prosperidade, a redenção, a alegria dos deuses e dos homens. Ao mundo envolto nas trevas da ignorância eu darei o belo clarão da melhor Ciência. - Libertá-lo-ei da velhice, da morte e de toda dor."

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